Pesquisa revela que isolamento social tem consequências mais profundas para pessoas LGBT+

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Não bastassem o peso do estigma e preconceito já vivenciados por pessoas LGBT+, os impactos do novo coronavírus submetem a população a novos obstáculos. 

O isolamento social, que impacta a sociedade como um todo, tem gerado consequências ainda mais agudas entre lésbicas, gays, bissexuais, transexuais e travestis. É o que revelam os primeiros dados da pesquisa realizada pelo #VoteLGBT, que entrevistou mais de 10.000 pessoas LGBT+ em todo o Brasil

As pessoas entrevistadas apresentaram maiores índices de desemprego e problemas de saúde mental se comparados ao restante da população. Também são preocupantes os dados coletados sobre tensões no convívio familiar durante a pandemia. 

Segundo os entrevistados, lidar com problemas de saúde mental durante o isolamento social é a maior preocupação. As pessoas LGBT+ já conviviam com esses males em maior frequência do que o restante da população. Segundo os dados apresentados pela Associação Americana de Psiquiatria, LGBTs têm mais que o dobro de chances de apresentar alguma condição de saúde mental durante a vida, quando comparadas às pessoas não-LGBT+. 

Desde que as homossexualidades deixaram de ser oficialmente entendidas como doenças há 30 anos, apareceram novas teorias para explicar os resultados de saúde mental mais altos entre pessoas LGBT+. A mais conhecida e referenciada delas é o stress das minorias, que indica que os problemas de saúde mental são resultados de um stress crônico acumulado ao longo da vida por pessoas LGBT+, em decorrência de discriminação e violência concreta, além da ameaça constante de sofrer LGBTfobia.

O estudo revelou que 28% das pessoas entrevistadas já receberam diagnóstico prévio de depressão. O número é quase quatro vezes maior do registrado entre a população brasileira, segundo dados da Pesquisa Nacional de Saúde (2013). 

Segundo Samuel Silva, um dos demógrafos que coordenou a pesquisa, "as taxas de depressão entre pessoas LGBT+ são mais elevadas do que na população geral por conta do estigma social e do preconceito vivenciado por nós, LGBTs, ao longo da vida. Nesse momento de pandemia, essas questões são extremamente importantes pois afetam diretamente a capacidade de se prevenir do contágio e de buscar tratamento em caso de infecção pelo novo coronavírus”.

Problemas no convívio familiar foram citados como maior dificuldade durante o isolamento social por 10% das pessoas LGBT+. Dessas, metade têm entre 15 e 24 anos, o que mostra alguns dos desafios enfrentados pelos jovens LGBT+ dentro de casa! 

Outro dado preocupante é que na pesquisa, a taxa de desemprego declarada foi de quase o dobro da taxa levantada pelo IBGE. 21,6% das pessoas LGBT+ informaram estar desempregadas, enquanto o índice entre o restante da população é de 12,2%, segundo a pesquisa PNAD Contínua divulgada em abril. 

Fernanda de Lena, também demógrafa e coordenadora da pesquisa, esclarece que “a taxa de desemprego entre LGBTs tende a ser mais elevada que da população em geral, pois a inserção no mercado de trabalho formal é dificultada por diversos fatores, entre eles o preconceito”. 

Vulnerabilidade das pessoas LGBT+ durante a COVID-19

As conclusões dessa pesquisa confirmam estudos e levantamentos anteriores realizados em vários países, que destacavam maior vulnerabilidade da população LGBT+ em tempos de pandemia – como a que vivemos atualmente.

Em abril, a ONU já havia solicitado aos países que protejam as pessoas LGBT+ contra a discriminação, em especial, as que procuram assistência médica. “As pessoas LGBT+ estão entre as mais vulneráveis e marginalizadas em muitas sociedades e entre as que estão mais em risco com o Covid-19”, escreveu a Alta Comissária para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet, em comunicado.

Neste mês outra pesquisa foi divulgada, desta vez pelo aplicativo Hornet, que concluiu que quase um terço dos homens gays e bissexuais se sentem vulneráveis no ambiente doméstico durante a pandemia do novo coronavírus. 

Representatividade é poder: conheça o #VoteLGBT+

O #VoteLGBT é formado por ativistas de várias áreas de atuação, como demografia, economia, jornalismo, antropologia, direito, artes visuais, performance, entre outras.  É um coletivo que busca aumentar a representatividade das pessoas LGBT+ em todos os espaços da sociedade, mas principalmente na política. 

O coletivo entende a representatividade de forma interseccional às pautas de gênero e de raça e acredita que a diversidade é um valor fundamental para a democracia.

O Vote atua em frentes diversas. Durante as eleições, ajuda a construir o #MeRepresenta, uma plataforma que prioriza pautas e corpos das minorias silenciadas na luta pelo direito de pessoas LGBT+, mulheres, pessoas negras e indígenas.

Fora das eleições, o Vote faz pesquisas de perfil político tanto nas Paradas LGBT+ do Sudeste, quanto em blocos de carnaval. Já que os órgãos oficiais ainda resistem em olhar pras pessoas LGBT+, o coletivo tem desenvolvido desde 2016, tecnologias próprias para gerar dados sobre a população LGBT+. Dados são importantes porque servem de instrumento pra gente entender quem são as pessoas LGBT+ no Brasil, o que pensam, quais desafios enfrentam e como políticas públicas podem ou poderiam ajudar. 

Nesses tempos de pandemia, tentando reduzir os impactos do isolamento social, o Vote lançou duas iniciativas: 

1: o LGBTFLIX, uma galeria de vídeos de acesso  gratuito, que reúne mais de 200 filmes com temáticas sobre lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transgêneros. 

2: o Juntas em Tempos de Treta, uma LGBTeca que reúne textos de autoras e autores LGBT+. A cada semana, novos textos são divulgados. 

O #VoteLGBT existe desde 2014 e colabora com a All Out em projetos diferentes desde o final de 2018. As 10 mil respostas da pesquisa foram alcançadas graças ao apoio de diversas organizações e coletivos que apoiaram a divulgação do questionário. A divulgação feita pela All Out contribuiu, de maneira decisiva, na ampliação do alcance numérico e geográfico da pesquisa. 

Texto construído de maneira colaborativa por integrantes do coletivo #VoteLGBT.

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