Um pouquinho da história lésbica do Brasil

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Hoje é o Dia da Visibilidade Lésbica no Brasil! E, pra garantir que a nossa história seja visível, eu que sou sapatona profissional vou te contar um pouquinho sobre como começou o movimento organizado de mulheres lésbicas no Brasil! 🌈

Então, senta que lá vem história! 

As mulheres lésbicas começaram a se organizar formalmente em 1979, em São Paulo, com o Grupo Somos, o primeiro grupo de afirmação gay no Brasil. 

Em resposta a atitudes machistas de integrantes do grupo, elas criaram um subgrupo lésbico dentro do Somos: o Grupo de Ação Lésbico-Feminista! E a partir daí, elas começaram a buscar alianças com o movimento feminista. 

Te adianto: a chegada das mulheres lésbicas ao movimento feminista impactou – e muito – a discussão sobre sexualidade e prazer das mulheres. 😏

As lésbicas defendiam abertamente – e fervorosamente! – o direito de todas as mulheres ao prazer e à sexualidade. E essas ideias eram consideradas ousadas de mais até pra algumas integrantes do movimento feminista da época! 

Além disso, muitas mulheres (mesmo as declaradamente feministas!) torciam o nariz pras lésbicas. O estereótipo de que feminista = sapatão já existia e elas não queriam ser "confundidas" com lésbicas. (A história às vezes se repete, né? 🙃)

Enquanto isso, as ativistas lésbicas defendiam que já tava na hora da lesbianidade deixar de ser um assunto privado de cada mulher. Que era o momento dessa parte da identidade de cada uma se tornar parte do posicionamento político também.

Então… Excluídas do movimento gay por conta do machismo e excluídas do movimento feminista por conta da lesbofobia, nos anos 1980 as nossas amigas pegaram seu caminhãozinho e foram atrás de um brejo pra chamar de seu. 🚚🐸💜

O Grupo de Ação Lésbico-Feminista, então, se desligou de vez do Somos e passou a ser um grupo independente, chamado Grupo de Ação Lésbica Feminista (Galf)Que é quase o mesmo nome, mas agora todas as palavras estão no feminino. 😉

O Galf, cheio de sapatão dos zines (amo 💕), vendia boletins informativos, distribuía folhetos falando sobre discriminação e violência contra mulheres lésbicas e divulgava as atividades do grupo pra mais mulheres – lésbicas ou não. Elas também participaram intensa e ativamente na luta e na resistência contra as prisões arbitrárias e torturas de pessoas LGBT+ durante a ditadura militar.

E aí, teve um episódio específico que marcou a história do movimento lésbico – e do movimento LGBT+ como um todo! – no Brasil. 😮

Tudo começou no que parecia apenas uma noite de inverno como outra qualquer, em 1983, no Ferro's Bar – mais conhecido como O ponto de encontro das lésbicas de São Paulo na época. Era lá que elas costumavam vender seus boletins e conversar com as mulheres que pudessem se interessar pelo ativismo.

Nessa noite, as atividades do Galf eram as mesmas de sempre: conversas aqui e ali, flertes, distribuição de panfletos, uns drinks, venda de boletins, provavelmente uma rodinha de violão. Até que: as ativistas do Galf foram expulsas do bar pelo dono e proibidas de voltar!

Agora, imagina isso: o bar era praticamente mantido pela fiel clientela sapatão. E de repente ele se vira contra ela? 😤Então, no dia no dia 19 de agosto, o Galf organizou um super protesto no Ferro's Bar. 

E olha, nesse dia todo mundo foi! Os gays, as feministas, alguns políticos e até a imprensa! Foi, inclusive, uma das primeiras vezes que a imprensa cobriu uma manifestação LGBT+ de forma favorável!

Depois da ocupação, que fez um barulho danado, o dono do Ferro's Bar acabou voltando atrás: liberou a venda do boletim (que se chamava Chanacomchana 🤪) e a entrada das lésbicas no bar.

Esse episódio foi tão marcante que hoje em dia a gente celebra o Dia Nacional do Orgulho Lésbico no dia 19 de agosto!  

E se você quiser ler o que as próprias mulheres do Galf tiveram pra falar sobre esse dia, você pode baixar a edição 4 do Chanacomchana no site do Acervo Bajubá, clicando aqui. 📚🤓

O tempo passou e, alguns anos depois, o Galf acabou se dissolvendo. Mas a luta lésbica não parou! 💪

Depois do fim do Galf, as sapatonas ativistas seguiram com a busca por um movimento lésbico de abrangência nacional. Afinal de contas, não dá pra falar só com as mulheres lésbicas brancas, cisgênero, de classe média ou alta e que moram São Paulo se a intenção é conversar com todas as lésbicas, né?

E foi assim que surgiu o Seminário Nacional de Lésbicas, o Senale! A primeira edição aconteceu em 29 de agosto de 1996 e é por isso que o Dia Nacional da Visibilidade Lésbica é comemorado nesta data! 💜

Tudo isso que aconteceu nos últimos 40 e tantos anos de história foi literalmente só o começo! A gente ainda tem muito trabalho pela frente!

E a visibilidade é um jeito importante da gente mostrar pra todo mundo que não tem nadinha de errado em ser lésbica – ou gay, ou bissexual, ou trans ou quem você é.

Nesse dia, e sempre, estamos aqui e estamos visíveis. Somos lésbicas, sapatonas, caminhoneiras, negras, brancas, trans, cis, gordas, magras! Nós somos diferentes, somos muitas! Nós existimos e seguimos na luta!

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