O que significa não-binariedade pra você?

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O dia 14 de julho é o Dia Internacional do Orgulho e da Visibilidade de Pessoas Não-Binárias

Mas pra saber o que significa não-binário, precisamos entender o que significa binário. 

Muito da nossa vida em sociedade é baseada em estereótipos de gênero – ou seja, definições pré-estabelecidas de masculino e feminino. (Você certamente já ouviu alguém dizer que meninos vestem azul e meninas vestem rosa, né? 😉) 

Como essa divisão se baseia em apenas duas possibilidades – homem e mulher – chamamos isso de gêneros binários.

No entanto, as manifestações e identidades pessoais são muito mais diversas do que isso! E falamos em pessoas não-binárias justamente porque há pessoas cuja identidade não está nesse sistema binário – que só permite duas possibilidades.

E não existe um só jeito ou tipo de pessoa não-binária. Não-binariedade se refere a uma série de identidades que não são parte do sistema de gêneros binários. Alguns exemplos são: agênero, demigênero, bigênero, gênero-fluido, genderqueer… E ainda há muitas outras!

Então, pra marcar o dia de hoje, nada melhor que ouvir as vozes de duas pessoas que são não-binárias! Fizemos uma pequena entrevista sobre não-binariedade com Yuriah Serin (que usa os pronomes ela/dela) e Jou Rozsanyi (que usa os pronomes ela/dela, elu/delu, ili/dili). Confere as respostas!

O que significa não-binariedade pra você?

Yuriah:Não se identificar/conformar com nenhum dos dois papéis de gênero (feminino x masculino) que a sociedade nos cria para performar. Para mim é entender que a minha identidade de gênero não cai dentro de nenhum destes dois pólos e que há mais do que apenas duas formas de se compreender gênero”

Jou: “Pra mim a não-binaridade está muito ligada a plenitude de ser! É enxergar o mundo e sua própria existência nele para além das coisas que nos são ditas. É entender que nenhuma característica física, anatômica deveria ditar nossas vidas. É um eterno processo de autoconhecimento e também de questionamento das práticas sociais não só no que diz respeito ao gênero mas a binaridade que é posta em tantos outros aspectos do nosso cotidiano, bom e ruim, certo e errado. Ser pessoa não-binaria é libertador, é transbordar fronteiras que nunca me pertenceram.”

E como foi se perceber uma pessoa não-binária?

Yuriah: “Comecei a me identificar com o não-binário apenas depois dos 20, que foi quando a palavra e o significado entraram no meu mundinho. Isso aconteceu por causa de uma amiga que se identificava com agênero e pesquisando sobre o assunto a identificação foi imediata.”

Jou: "Tive a sorte de nascer em uma família que sempre me permitiu ser bastante livre e ter poder de escolha, seja em relação a que roupa iria vestir ou qual esporte iria praticar e a tantas outras coisas, o que acredito que foi fundamental para que a minha identificação enquanto pessoa não-binária não fosse exatamente como um sair do armário. (...) 

O espelho em si foi e é um objeto fundamental na minha identificação, horas e horas nessa relação de mim comigo mesme, de auto observação, de entender que não há nada, da minha estrutura óssea ao brinco que eu uso ou deixo de usar, que diga que sou um de dois. (...) Sinto que as coisas foram gradualmente se tornando mais evidentes para quem está de fora, sem eu ter que virar e falar 'então galeris, sou uma criatura não-binária'."

As dificuldades que a sociedade tem em acolher o diferente costumam trazer diversos questionamentos e conflitos internos para pessoas LGBT+. Ser uma pessoa não-binária muda as suas  relações com família, amigos, estudos, o mercado de trabalho?

Yuriah:Essa é uma questão mais complicada. Sou uma pessoa não-binária que gosta de roupas delicadas, então sou lida como uma garota o tempo todo, mesmo que eu diga que eu não sou. A língua no Brasil também não encontrou uma forma de comportar gêneros neutros naturalmente. Então acabei me conformando com pronomes femininos. Mais como uma forma de não me machucar, que com a questão de identificação, mesmo. Minha família já me ouviu falar várias vezes sobre isso, mas para eles eu sou uma garota. Meu alívio geralmente está nas pessoas mais próximas dos círculos LGBT+ que conseguem entender minha identidade de gênero mais facilmente.”

Jou: “Acho engraçado pensar [na escola] hoje em dia. Na época não era algo que eu pensava, muito menos sabia que podia pensar. Mas olhando pra algumas coisas que eu vivi e ouvi nos tempos de escola fica bem evidente o quanto nós somos treinados direitinho desde muito pequenas a ler símbolos e comportamentos de forma binária. Em relação a família nem sempre me sinto disposte a falar sobre o assunto, mas sempre estou aberte ao diálogo caso seja do desejo delus. E sinto muito orgulho em ver algumas pessoas na minha família tirando um momento pra me ouvir, pra ir atrás de tentar entender melhor não só questões sobre não-binaridade mas sobre todo esse universo que foge das normas. É claro que a gente passa umas raivas aqui e ali, mas só de se abrirem pra me ouvir sei que tenho um lugar de muito privilégio e preciso me utilizar disso para mudar muita coisa, mesmo que só no meu círculo de relações.”

O que você diria pra uma pessoa não-binária mais jovem?

Yuriah: "Só você pode saber como você se sente e ninguém tem direito de impor uma identidade de gênero sobre você. Pesquise, leia bastante! Entre em grupos de pessoas não-binárias, converse com elas, crie discussões, troque experiências. Questione! Não existe errado quando se trata de você e seu autoconhecimento/compreensão.'

Jou: "Primeiro de tudo, só você pode dizer quem você é ou não é. Segundo, não é porque você se entende de uma forma agora que você precisa se definir como alguma coisa pro resto da sua vida. Assim como a sexualidade, a identidade também pode ser fluida. E por fim, não pense que você tá dentro de um armário e que você precisa fazer um chá de revelação. Não! Esteja em paz consigo, se questione, se entenda, se confunda de novo, você não deve nada a ninguém quando o assunto é a essência do seu ser. Ah! E quando se sentir invalidade em relação a sua identidade – isso vai acontecer muito – não se deixe levar por isso. Tem outras pessoas que também vêem o mundo como você. Procure por elas, converse com elas, isso é acolhedor pra alma!

Escrito por: 

Bárbara Yamasaki, voluntária na All Out, apaixonada por cores, doces e trabalhos manuais. Designer por formação e aspirante a muitas coisas.

Pedro Ivo Oliveira, voluntário na All Out Brasil, estudante de Relações Internacionais pela PUC Minas e pesquisador em Direitos Humanos, Gênero e Sexualidade

 

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