3 histórias de pessoas LGBT+ refugiadas na Alemanha

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Em muitos lugares do mundo, ser gay é um crime. Em alguns países, é um crime com pena de morte. Isso significa que tem muitas pessoas que, pra se manter em segurança, precisam fugir de seu país pra solicitar asilo e proteção em outros lugares. 

Em 2017 e em 2020, a All Out fez campanhas de financiamento coletivo pra apoiar o trabalho da organização alemã Homosexuelle Selbsthilfe (HS). 

A HS apoia pessoas LGBT+ solicitantes de asilo na Alemanha, com apoio jurídico e de tradução pra que as pessoas não passem por agressões verbais e possam solicitar asilo de forma justa.

Aqui a gente traduziu os relatos – de sucesso! – de três pessoas refugiadas que receberam o apoio da HS entre 2017 e 2020.

Khaled*, do Egito
* Trocamos o nome pra proteger Khaled.

Em 2017, a repressão contra pessoas LGBT+ aumentou muito no Egito. Nessa época, eu já era ativista LGBT+ e me tornei conhecido por lá. Até que um amigo meu foi preso e eu percebi que teria que pedir asilo em outro país. E eu sabia que se eu voltasse ao Egito, eu também seria preso.
 
Pra salvar minha vida, eu saí do Egito e fugi pra Alemanha. 

Eu já tinha conseguido chegar lá. A única coisa que faltava era passar pela audiência do requerimento de asilo. Mas a experiência não poderia ter sido pior. 

Eu não falo alemão, então tive um tradutor designado pra mim. Ele ficava me chamando de "bicha" na frente dos oficiais de asilo. Aí, um oficial me disse que eu seria enviado pra casa muito em breve. Ele até ameaçou dizer à polícia do Egito que eu tinha solicitado asilo. 

Isso tudo acontecendo em uma sala onde meu destino e meu futuro estavam sendo decididos.

Eu só entendi depois tudo que eles estavam dizendo. Lá, na hora, eu só sentia o ambiente ficando mais e mais hostil. 

Eu senti medo pela minha vida. Como sou um ativista LGBT+ conhecido eu não tinha como voltar pro Egito. Eu já não sabia o que fazer.
 
Mas eu dei sorte. A organização Homosexuelle Selbsthilfe (HS) entrou em contato comigo. A HS ajuda pessoas refugiadas na Alemanha – como eu. 

Com a ajuda da HS, conseguimos provar, diante de um juiz, que fui prejudicado por um tradutor homofóbico e um oficial que, também por homofobia, não acreditava que meu pedido era válido. 

Eu realmente acredito que essa ajuda salvou minha vida. E agora, eu posso até ajudar outras pessoas: virei voluntário de uma organização de apoio a pessoas refugiadas na minha nova cidade! 

***

Tonya, Etiópia

Eu cresci em uma das maiores cidades da Etiópia. Todo dia, depois da escola, eu ajudava minha mãe a fazer faxina em casas de um bairro rico. Foi assim que me tornei muito próxima de uma das meninas da equipe de limpeza. Eventualmente, nós nos apaixonamos. 

Ela me apresentou a grupos clandestinos de gays e lésbicas. Foi incrível. Encontrei uma comunidade à qual eu sentia que eu pertencia.

Mas a dona de uma das casas em que trabalhávamos descobriu que estávamos apaixonadas. Ela nos espancou e contou da gente pros nossos pais. Depois, ela ameaçou denunciar a gente às autoridades – é ilegal ser gay ou lésbica na Etiópia.

Minha mãe estava convencida de que ela poderia me "curar" se me tirasse da escola, me prendesse em casa e fizesse "exorcismos" violentos comigo. Quando os "exorcismos" não funcionaram, minha mãe me expulsou da nossa casa e contratou um traficante de pessoas para me levar pra longe de lá.

De repente ele tinha me levado até a Europa. Lá, eu consegui escapar do meu traficante. E acabei conseguindo chegar sozinha à Alemanha. 

Pensei que finalmente estivesse em segurança. Mas durante todo o meu processo de requerimento de asilo, vi que as autoridades eram muito homofóbicas e racistas. Pensei que estava condenada e que seria enviada de volta para a Etiópia.

Mas, ainda bem, tive um guardião que contatou a organização Homosexuelle Selbsthilfe (HS). A HS conseguiu me ajudar com um advogado que entende das questões de asilo para pessoas LGBT+ e ele me preparou para minha entrevista com oficiais de asilo. 

Deu certo e me concederam o status de refugiada. E eu estou só esperando que meus documentos fiquem prontos.

Agora, estou em condições de começar a reconstruir minha vida aqui. Posso participar de eventos LGBT+ e da juventude com meu tutor. Com muita ajuda, estou lentamente me curando e aprendendo a me aceitar e a me amar.

***

Naemi, Tunísia

Meu nome é Naemi. Nasci e fui criada na Tunísia, onde podem te condenar a três anos de prisão por praticar atividade sexual com pessoas do mesmo sexo. 

Há alguns anos, minha família me pegou beijando minha namorada. Eles me espancaram e imediatamente tentaram me forçar a casar com um homem. Quando eu recusei, eles me expulsaram de casa. 

Sem um lugar para dormir, acabei perdendo o meu emprego. E, em seguida, o pai da minha namorada me denunciou à polícia.

Fui interrogada e fiquei na cadeia por dois dias. Depois de me soltar, me disseram que eu teria que comparecer a uma audiência na Justiça. E eu sabia o que isso significava. Eles iam me mandar pra prisão só porque sou lésbica.  

Tentei me esconder com amigos, mas minha família me encontrou e me espancou de novo. Eu não tinha mais pra onde ir. Fiquei apavorada e tive que fugir do país.

Eventualmente, cheguei até a Alemanha. Estava completamente sozinha. Pensei que finalmente tinha encontrado a liberdade. Mas logo descobri que o processo de requerimento de asilo seria mais uma batalha. 

Minha primeira tentativa de solicitar asilo foi terrível. Quando me perguntaram sobre as violências e ameaças que eu tinha sofrido na Tunísia, o tradutor que tinham me designado – eu não falava alemão – ficava me insultando e não me deixava nem terminar de falar. 

Mas eu era a única pessoa na sala que podia entender as coisas horríveis que ele estava me dizendo. E os oficiais de asilo receberam o meu pedido com desaprovação também.

Resultado: meu pedido de asilo foi rejeitado. Tive tanto medo de ter que voltar pra Tunísia. 

Eu tinha pouca esperança. Até que uma organização incrível, a Homosexuelle Selbsthilfe (HS) interveio pra me ajudar e conseguiu um advogado que entende de questões LGBT+ pra assumir meu caso. Junto do advogado e da HS fomos capazes de apresentar meu caso de forma clara. 

Depois de 2 anos de tentativas e espera, finalmente consegui asilo na Alemanha. 

Agora eu tenho um emprego e estou reconstruindo minha vida aqui. Estou aprendendo alemão e encontrei minha casa e minha comunidade, onde finalmente me sinto segura.
 

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